Voltar Publicada em 27/08/2020

Família faz boletim contra hospital e cita 'tensão' em equipe médica após bebê morrer na barriga da mãe por falta de anestesista


A família da bebê Cecília, que morreu na barriga da mãe antes de nascer, registrou boletim de ocorrência nesta quarta-feira (26) contra o Hospital Regional de São Francisco do Guaporé (RO), a 600 quilômetros de Porto Velho. Segundo denúncia da família, Cecília morreu porque não havia médico anestesista no hospital para fazer a cesárea.

 

O caso ficou conhecido nacionalmente na última sexta-feira (21), depois que os próprios pais postaram uma foto no Facebook desabafando sobre a suposta negligência médica no hospital. Na imagem eles aparecem abraçados ao corpo da filha.

 

Nesta quarta-feira, a família procurou a delegacia de São Francisco para denunciar o hospital. A Polícia Civil registrou o caso como 'morte a esclarecer' e um delegado assumiu a investigação.

 

Segundo registro policial, que o G1 teve acesso com exclusividade, Keylyzangela Nillio, de 28 anos, estava na 39ª semana de gestação. Toda a sua gravidez foi acompanhada por uma equipe médica de um posto de saúde local.

 

Na terça-feira (18), Keylyzangela se sentiu mal e precisou ir até o Hospital Regional de São Francisco. A médica obstetra de plantão percebeu que havia uma alteração no batimento cardíaco da bebê Cecília. Foi apontado a necessidade de ser feito um parto urgente, mas a unidade não tinha uma anestesista de plantão.

 

De acordo com denúncia da família, a gestante precisou esperar mais de 10 horas — até o plantão da única anestesista da cidade começar — para então ser feito a cesárea. Com não era possível o parto durante a noite, a médica teria aplicado medicamentos na gestante e manteve Keylyzangela internada.

 

O boletim de ocorrência cita que na manhã seguinte, por volta de 6h15 de quarta-feira (19), a equipe médica fez uma verificação dos batimentos cardíacos da bebê e os mesmos estavam ativos.

 

Às 7h, segundo denúncia da família, houve a troca de plantão e a nova equipe médica não cumpriu o procedimento de aferir os batimentos do bebê a cada 30 minutos — que havia sido adotado durante toda a noite.

 

Somente por volta de 7h45 a nova equipe fez uma aferição na barriga da gestante, momento que não foi mais constado batimentos cardíacos da bebê.

 

"Houve então uma grande tensão entre a equipe médica, que rapidamente deu início ao trabalho de parto, não sendo permitido a presença de nenhum membro da família durante o procedimento cirúrgico", relata a tia Elaine Oliveira no boletim.

Após o trabalho de parto, a equipe médica informou aos familiares que Cecília tinha nascido sem vida devido à ingestão de líquido amniótico, parada cardíaca, e uma suposta má formação do bebê.

 

Segundo boletim de ocorrência, a direção do hospital de São Francisco não teria permitido que a família levasse a gestante para outro hospital da região que tivesse anestesista (durante a noite), para que Keylyzangela pudesse fazer o parto de emergência.

 

O que diz o relatório do Hospital?

 

"De acordo com o boletim médico, a paciente K.F.N, de 28 anos, grávida de 39 semanas, chegou no hospital no dia 18/08 às 20:46h, encaminhada por uma Unidade de Pronto Atendimento por apresentar alteração no batimento cardíaco fetal (BCF), que era de 165 batimento por minuto, sem apresentar qualquer outro sintoma: a paciente não sentia dor, não estava com perda de liquido, sem sangramento, e não estava em trabalho de parto.

A mesma foi atendida por um obstetra plantonista, que realizou todo procedimento clínico, e foi realizado monitoramento do BCF de 30 em 30 minutos durante todo plantão noturno.

Na manhã seguinte às 06:30h, o bebê apresentava BCF de 160 bpm. Às 07:30 foi indicado parto cesárea, já iniciando a preparação da paciente. Às 07:35h teve início o procedimento com EQUIPE COMPLETA (OBSTETRA, MÉDICO AUXILIAR, ANESTESISTA, PEDIATRA, ENFERMEIRO, TÉCNICO DE ENFERMAGEM), com retirada do feto em parada cardiorrespiratória (PCR), iniciando imediatamente o protocolo de massagem e passado ao pediatra presente na sala cirúrgica.

O recém-nascido apresentava liquido amniótico espesso e presença de mecônio. Foi realizado todo protocolo para a PCR e síndrome de aspiração de mecônio, com desfecho desfavorável", afirma o Hospital, através da Secretaria de Estado da Saúde (Sesau).

Ao G1, a Secretaria de Estado da Saúde (Sesau), responsável pelo hospital de São Francisco, disse que atualmente o hospital só tem um profissional terceirizado para o serviço de anestesia (e este não estava de plantão no dia) e um outro médico habilitado para anestesiar encontra-se afastado.

"Atualmente existe um contrato com empresa terceirizada para prestação de serviço de anestesia com um profissional contratado para cumprimento de 20 plantões diurnos de 12 horas cada plantão".

 

Desabafo da mãe

 

Nas redes sociais, a mãe de Cecília postou uma foto segurando o corpo da filha e se despedindo. Na ocasião, Keylyzangela Nillio prometeu amar a filha 'para sempre'.

 

"Ahhh filha, minha filhinha, minha preciosa, minha princesa. Você mudou minha vida, meu mundo, fez o mundo girar ao seu redor, tudo era você e pra você. Como te amei, filha. Cada minutos que esteve dentro da mamãe, te amei, você sabia do orgulho que a mamãe sentia da barriga, sentia de você. Até planos pro seu primeiro aninho mamãe já tinha feito😭😭.

 

"Você deixou mamãe sair da maternidade com os braços vazios. Eu sabia que iria chorar quando a gente encontrasse o papai do lado de fora nos esperando, mamãe chorou porque papai estava nos esperando...e você deixou mamãe sair sozinha. E nossas fotos??? Mamãe queria reproduzir várias fotinhas com você", escreveu a mãe de Cecília.

 

Fonte G1