Voltar Publicada em 23/04/2017

Seis das nove vítimas de chacina na gleba são identificadas e três são de Rondônia - Veja nomes


COLNIZA (MT)  -  Os corpos das nove vítimas da chacina (todos do sexo masculino) ocorrida na Gleba Taquaraçu do Norte, em Colniza (distante cerca de 1,1 mil quilômetros de Cuiabá), na quinta (20) chegaram na cidade localizada no extremo norte de Mato Grosso na manhã deste sábado (22).

A demora advém do fato de a vila ficar distante 250 quilômetros de Colniza, e o local onde ocorreram os assassinatos, a mais oito quilômetros de distância. Também contribuiu para a espera das famílias as péssimas condições das estradas -- a maioria de chão e tornadas atoleiros, por força das chuvas -- que conduzem até o local.


Todos os homens faziam parte de uma igreja evangélica (um inclusive, pastor), três eram do estado de Rondônia, três são do Distrito de Guariba (Mato Grosso), de acordo com o delegado José Carlos de Almeida Junior.


O transporte foi feito pelo rio, através de um barco e uma balsa. De acordo com a Polícia Civil, 120 famílias moravam no assentamento há 12 anos. A Comissão Pastoral da Terra informou que famílias já haviam sido expulsas da área de forma violenta em 2004. O responsável pelas investigações é o delegado Edison Ricardo Pick.


O bispo emérito dom Pedro Casaldáliga e o bispo dom Adriano Ciocca Vasino, da Prelazia de São Félix do Araguaia, divulgaram carta pública onde condenam a violência e prestam solidariedade à dor das famílias das vítimas da execução sumária. “Clamamos justiça e que os autores desses crimes sejam processados e punidos. A consequente impunidade no campo, fruto da omissão dos órgãos públicos, perpetua a violência”.


O secretário de Segurança Pública, Rogers Jarbas, informou que os trabalhos de identificação já conseguiram determinar que são seis as vítimas de Mato Grosso e três de Rondônia.

 

Polícia identifica seis corpos:


A Polícia Civil divulgou a identificação dos nomes de seis das nove vítimas da chacina em Colniza. Os corpos de outros dois homens já foram necropsiados, mas não foram identificados. Ainda falta periciar outro cadáver. Até agora, os corpos de três mortos já foram liberados para translado até o estado de Rondônia: Samuel Antônio da Cunha, Francisco Chaves da Silva e Edison Alves Antunes.

 

As vítimas identificadas são:

 

Sebastião Ferreira de Souza

Edison Alves Antunes

Ezequias Santos de Oliveira

Francisco Chaves da Silva

Samuel Antônio da Cunha

Aldo Aparecido Carlini


Neste sábado, a Prelazia de São Félix do Araguaia, que tem Dom Pedro Casaldáliga como bispo emérito, divulgou nota manifestando solidariedade às vítimas e indignação com o crime.


“Este massacre acontece num momento histórico de usurpação do poder político através de um golpe institucional, com avanços tão graves na perda de direitos fundamentais para o povo brasileiro que coloca o governo do atual presidente Temer numa posição de guerra contra os pobres, isso refletido de forma concreta nos projetos, como as Medidas Provisórias 215 e 759, que violam direitos dos povos do campo e comunidades tradicionais”, afirma a nota.

 

“Como consequência, o ano de 2016 foi o mais violento dos últimos 13 anos, apontando para uma perspectiva desoladora no campo. E esta situação de Colniza, onde assassinaram inclusive crianças, nos expõe diante dos objetivos de ruralistas que não temem nada para conseguir as terras que buscam”, segue.

 

Leia a nota na íntegra:

 

"Em Mato Grosso o campo jorra sangue

 

A Prelazia de São Félix do Araguaia, em reunião com suas/seus agentes de pastoral, seu bispo dom Adriano Ciocca Vasino e o bispo emérito dom Pedro Casaldáliga, na cidade de São Félix do Araguaia - MT, manifesta sua dor, indignação e solidariedade com as famílias assassinadas na Gleba Taquaruçu, município de Colniza – MT, no dia 20 de abril.

 

Este massacre acontece num momento histórico de usurpação do poder político através de um golpe institucional, com avanços tão graves na perda de direitos fundamentais para o povo brasileiro que coloca o governo do atual presidente Temer numa posição de guerra contra os pobres, isso refletido de forma concreta nos projetos, como as Medidas Provisórias 215 e 759, que violam direitos dos povos do campo e comunidades tradicionais, como também no acirramento do cenário de violações contra as/os defensores de direitos humanos.

 

Diversos políticos expõem abertamente seus discursos de ódio e incitação à violência contra as comunidades que lutam pelos seus direitos. Vivemos um clima de “Terra sem lei”, uma verdadeira guerra civil em nosso país.

 

Como consequência, o ano de 2016 foi o mais violento dos últimos 13 anos, apontando para uma perspectiva desoladora no campo. E esta situação de Colniza, onde assassinaram inclusive crianças, nos expõe diante dos objetivos de ruralistas que não temem nada para conseguir as terras que buscam.

 

As famílias de agricultores da Gleba Taquaruçu vêm sofrendo violência desde o ano de 2004. Neste período, em decisão judicial, a Cooperativa Agrícola Mista de Produção Roosevelt ganha reintegração de posse concedida pelo juiz de Direito da Comarca de Colniza, como anunciada na Nota da Comissão Pastoral da Terra, de 20 de abril deste ano. Em 2007, ao menos 10 trabalhadores foram vítimas de tortura e cárcere privado e, neste mesmo ano, três agricultores foram assassinados.

 

Como estão, neste momento, as famílias que vivem em Colniza? O município já foi considerado o mais violento do país. Sabemos que na região existem outros conflitos de extrema gravidade, como o da fazenda Magali, desde o ano 2000, e o conflito na Gleba Terra Roxa, desde o ano de 2004. A população teme que outros massacres possam acontecer.

 

Clamamos justiça e que os autores desses crimes sejam processados e punidos. A conseqüente impunidade no campo, fruto da omissão dos órgãos públicos, perpetua a violência.

 

Na semana em que lamentamos o massacre de Eldorado dos Carajás, ocorrido em 17 de abril de 1997, que vitimou 19 lutadoras e lutadores do povo, somos surpreendidos por outro massacre no campo, que quer amedrontar, calar as vozes e submeter a dignidade do povo brasileiro.

 

Temos a certeza que o massacre ocorrido jamais roubará os sonhos e as esperanças do povo. E jamais calará a voz das comunidades que lutam.

 

O sangue dos mártires será sempre semente de JUSTIÇA e VIDA!

 

São Félix do Araguaia, 21 de abril de 2017."